Certa vez eu acampava com meu tio e conversamos bastante sobre o comportamento das pessoas, sobre compromissos, sobre a vida em geral. Dentre várias coisas, ele me ensinou que o verdadeiro compromisso se dá por um anel imaginário, que somente você pode ver. Me disse da bobagem que é um anel de verdade, porque as pessoas simplesmente tiram e guardam quando é conveniente. Mas o anel imaginário não, você olha e ele está lá. E o papel desse anel é fazer você pensar por cinco minutos antes de se deixar levar pelas tentações, em qualquer campo da sua vida.
Ele também falou sobre um monstro que vive dentro da gente. Um lado escuro que sempre quer nos empurrar para o vazio, o atalho, o erro, a solidão. Disse que temos que ser mais fortes que esse monstro. Olhar para ele e dizer não, sempre. Porque ele te proporciona grandes prazeres, de forma inconstante, inquieta, que te levam para dentro do poço - porque se tratam de ilusões, vícios e caprichos. Ele disse também, e isso é interessante, que tem gente que visita sempre seu monstro, ou até vive somente esse lado, e que temos que respeitar essa opção, mas se afastar se não formos capazes de suportar a convivência.
E ele me ensinou por fim, que quem é forte o suficiente para respeitar o anel imaginário e para dominar o seu monstro, por muitas vezes será ridicularizado por isso, pelos outros e até por si próprio. Mas que nunca devemos nos arrepender.
Eu tinha 17 anos e não entendi muito bem na época. Agora, depois de tanta convivência com anéis e monstros, conclui que as pessoas preferem visitar ou viver seus monstros, esquecendo-se dos anéis, porque não conseguem fazer uma escolha, sem renunciar outras. Elas querem viver de tudo um pouco e acabam por escrever histórias rasas, egoístas, e vivem numa constante solidão com si mesmo, ainda que rodeados de pessoas.
Como diz Bauman, ninguém mais quer apertar os laços... é o tal do mundo líquido que ele tanto fala.